Após participar do “O futuro do Turismo é diverso” no Visit Brasil Summit (Embratur) ao lado de Martinique Lewis – presidente da Black Travel Alliance e apresentadora de TV no National Geographic TV e Disney Plus – quis fazer o que nós brasileiros fazemos de melhor: receber bem. A convidei no dia seguinte para conhecer o trabalho do chef David Cruz, no Quitéria, em Ipanema. David tem como influência a cozinha sertaneja do Brasil e em suas mãos ingredientes como maxixe, quiabo, rapadura e banana da terra viram estrelas em suas preparações. É talento puro – e Martinique Lewis ficou encantada com algo que comeu e que eu vou te contar nos parágrafos abaixo.

Marty, já a chamo pelo apelido, viajou o mundo e esteve nos países do continente africano e quando sentou à mesa perguntou se existiam preparações com insumos afrodiaspóricos no cardápio. Achei o maxixe (que tentei traduzir e não fez sentido), o quiabo e a banana da terra. Sem o preciosismo acadêmico, histórico e geográfico, estou considerando afrodiaspórico aqui tanto o ingrediente que veio de África quanto aquele que é usado com frequência na culinária brasileira pelo nosso povo.
Nascida nos Estados Unidos e com pais do Panamá, quando perguntei qual a comida no mundo que ela mais gosta entre as culinárias, sem pestanejar, ela respondeu: mexicana. E, para nossa surpresa, uma das preparações do chef David que tinha o quiabo como ingrediente afrodiaspórico era justamente uma releitura de um nacho com guacamole. Mas como é uma releitura, o snack é produzido com milho crioulo (um milho não adaptado pela indústria e que é cultivado por agricultores ando a semente de geração a geração); e o guacamole tinha quiabo em sua composição. E foi este sabor do quiabo que a encantou.

Isso que é um match perfeito: ela é apaixonada por comida mexicana e queria experimentar ingredientes afrodiaspóricos. O chef David Cruz, que valoriza a riqueza e pluralidade dos insumos brasileiros, conseguiu encantar uma profissional do Turismo que já rodou o mundo experimentando as mais diferentes preparações e insumos. Pedi licença na mesa, fui na boqueta (balcão que separa a cozinha do salão) e pedi mais uns crocantes de milho crioulo e guacamole de quiabo para nossa convidada especial da noite. Ela merece se deliciar com os crocantes que a encantou.
Expliquei a ela que infelizmente no Brasil a comida e os ingredientes afrodiaspórica ainda não são valorizados – tanto pelos consumidores quanto pelos empresários do setor; que nos cursos de gastronomia não temos disciplinas de culinária internacional de África; e que são poucos chefs como David Cruz, Vanessa Rocha, Adriana Veloso e Danilo Parah que têm autonomia para em menus autorais inspirados na nossa ancestralidade. E é claro que em Junho, quando ela retornar ao Brasil para participar do planejamento do Black Travel Summit que acontecerá em Novembro no Rio de Janeiro (RJ), eu a levarei para conhecer outros restaurantes chefiados pelos nossos.
See you later, Marty!
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