Aquela notícia que chega e devasta a gente aconteceu hoje – a partida de Vó Tutu. Não há quem não ficou encantado pelo carinho, voz mansa, serenidade e afeto que Vó Tutu distribuía aos seus netinhos em São Paulo e no Brasil. As centenas de pães que ela oferecia às famílias em situação de vulnerabilidade eram importantes e matavam a fome de muitas crianças; mas o seu amor e carinho era anterior à essa entrega material.
E como uma boa avó, o seu coração era imenso para receber netinhos, netos e netões – a idade era o menos importante naquele coração que emanava cuidado com todos nós que a conhecemos. Estando perto dela a gente queria um abraço, um sorriso e até dançar junto dela.

Sua agem pelo Rio de Janeiro em 2024 foi marcada de muita alegria e emoção durante o Festival Gastronomia Preta onde foi homenageada na premiação do evento como ganhadora da categoria Ação Social. No Rio, subiu a Rocinha, andou de mototáxi, foi no Samba do Trabalhador, sambou e emocionou a todos no seu discurso quando recebeu a placa do Festival Gastronomia Preta.
Nas três edições tivemos muitos discursos emocionantes, momentos de resistência e de aquilombamento, mas a emoção de Vó Tutu recebendo o prêmio pela sua trajetória foi o momento mais lindo que vivenciei e dificilmente teremos outro igual. Ela viveu o seu primeiro festival de maneira única e como uma jovem – teve mais disposição que eu.” Para Josué Richardson (Marabá-PA), que ficou coladinho em Vó Tutu junto com a sommeliere Patrícia Brentzel “foi encantador ver Vó Tutu vislumbrando o morro e o relevo do Rio de Janeiro, vendo o Rio de Janeiro de cima. Foi uma conexão familiar e ancestral.”
Eu já sabia da iração de Lorençato, um dos maiores críticos da Gastronomia no Brasil, da Veja São Paulo, e por isso pedi uma aspas dele para esta coluna.
“Com voz suave e uma doçura incrível, Vó Tutu foi uma mulher transformadora, revolucionária a sua maneira. Descobriu a vocação durante a pandemia: alimentar pessoa do bairro onde morava um café da manhã digno com pãezinhos que ela mesma fazia. Era assim que sua vizinhança desassistida na Vila Brasilândia iniciava bem o dia. Com sua partida, fica um vazio imenso que espero seja preenchido pela fila dela, a Vania. Vó Tutu era o pão da vida.”
Diferentes chefs e profissionais do mercado em Gastronomia estão tristes hoje – especialmente aqueles que fizeram trocas com ela como Eudes Assis, Edson Leite, Paulo Rocha, Vanessa Rocha, Danilo Parah e tantos outros. Mas é hora de prosseguir e lembrar da sua doçura e cuidado com os nossos.
Descanse em paz, Vó Tutu.
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